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Análise da capacidade de suporte em propriedades de recria e engorda de bovinos: impacto na rentabilidade

A produção de bovinos de corte no Brasil é realizada, em grande parte, tendo as pastagens como base alimentar. Nesse sentido, o bom planejamento dos sistemas de pastejo é fundamental para alcançar maior eficiência na produção de carne, fator chave para garantir a competição da bovinocultura de corte frente a outros usos da terra.
A otimização da taxa de lotação das pastagens, respeitando a capacidade de suporte da área, contribui para ganhos produtivos. Entretanto, alcançar os pontos ótimos de produção exige análises minuciosas de cada sistema, sendo necessário planejar os investimentos com foco na viabilidade financeira. O emprego de técnicas de manejo de pasto deve ser realizado de maneira assertiva, visando a produção (acúmulo) de forragem e proporcionando também uma alta eficiência de pastejo, de forma a elevar a capacidade de suporte da área.
Correlações
No intuito de demonstrar o impacto da gestão da capacidade de suporte das pastagens sobre os resultados produtivo e financeiro de propriedades de recria e engorda de bovinos foram estabelecidas correlações entre a disponibilidade e exigência de matéria seca (MS), índices zootécnicos (taxa de lotação, produção de arrobas por área e ganho de peso médio diário) e a margem bruta (MB) obtidos dentro dos sistemas produtivos.
Para isso, foram utilizados dados do Projeto Campo Futuro, uma parceria entre o sistema CNA/Senar e o Cepea, de propriedades de recria e engorda de bovinos de corte amostradas entre 2018 e 2024, e seus resultados financeiros em março de 2025.
Para o cálculo de estimativa de produção de Matéria Seca (MS) das pastagens considerou-se uma produção basal de 2,5 toneladas de MS de folhas (porção das plantas forrageiras consumida pelos animais) por hectare por ano.
Os efeitos decorrentes da aplicação de fertilizantes, como a ureia e os adubos formulados, foram incorporados por meio de acréscimos produtivos por área, determinados conforme os níveis de adubação realizados em cada propriedade.
Para as estimativas de demanda de MS pelos animais de cada sistema, utilizou-se o parâmetro de consumo definido pela Embrapa (1), que considera o peso médio e o ganho médio diário (GMD) de cada categoria animal.
Vale destacar que, para evitar o efeito substitutivo no balanço de MS do sistema, foram excluídas da análise as propriedades que forneciam concentrado aos animais.
Resultados
Ao analisar o balanço entre produção e demanda de MS pelos sistemas, observou-se que 15% das propriedades apresentaram um balanço negativo, ou seja, obtiveram uma produção de MS abaixo da demanda exigida pelo sistema (Gráfico 1). Por outro lado, 50% das propriedades apresentaram uma produção teórica excedendo em mais de 20% a demanda estimada nos sistemas.

Gráfico 1: Balanço de Matéria Seca (MS) – relação entre produção e demanda – de propriedades de Recria e Engorda de bovinos amostradas pelo projeto Campo Futuro.
Fonte: Projeto Campo Futuro - Sistema CNA/Senar.
Elaboração: Cepea - ESALQ/USP, Sistema CNA/Senar.
Ao correlacionar o balanço de MS com a taxa de lotação apresentada pelo sistema, ficou evidente que propriedades que se encontravam em déficit de produção de MS demonstravam tendência de apresentar taxa de lotação (UA/ hectare) mais alta (Gráfico 2). Em contrapartida, propriedades em superávit de produção de MS tendiam a taxas de lotação mais baixas.

Gráfico 2: Correlação entre balanço de matéria seca (MS) e taxa de lotação (UA/hectare) de propriedades de Recria e Engorda amostradas pelo projeto Campo Futuro.
Fonte: Projeto Campo Futuro - Sistema CNA/Senar.
Elaboração: Cepea - ESALQ/USP, Sistema CNA/Senar
Propriedades que mantiveram um melhor aproveitamento de colheita de pasto apresentaram lotação média próxima a 1 UA (unidade animal = 450kg) por hectare, indicando que existe espaço para melhoria desse índice. Uma colheita de pasto mais eficiente possibilitaria o escalonamento da produção na propriedade e evitaria problemas como o acamamento do pasto.
Para analisar a relação entre a gestão produtiva e o resultado financeiro dos sistemas, as propriedades foram agrupadas de acordo as margens brutas (MB) obtidas. Assim, as 20 propriedades presentes na análise foram distribuídas em quatro grupos. O grupo 1 representa as 25% com as maiores MB (R$/hectare), enquanto o grupo 4 corresponde aos 25% com as MB (R$/hectare) mais baixas.
Ao correlacionar a MB por hectare com o balanço de MS, observou-se que os grupos 1 e 2 obtiveram as MB mais altas e, também, um balanço de MS mais próximo do ideal (faixa de 100%). Por outro lado, os grupos 3 e 4, além de apresentarem as MB menores, demonstraram um balanço de MS com maior excedente de forragem (Gráfico 3).

Gráfico 3: Correlação entre balanço de matéria seca (MS) e Margem Bruta (R$/hectare) de propriedades de Recria e Engorda amostradas pelo projeto Campo Futuro.
Fonte: Projeto Campo Futuro - Sistema CNA/Senar.
Elaboração: Cepea - ESALQ/USP, Sistema CNA/Senar.
A correlação ilustrada no Gráfico 3 indica que uma colheita de pasto eficiente pode contribuir com melhores margens, o que é evidenciado ao relacionar a MB com a produtividade (arrobas por hectare) de cada grupo (Gráfico 4).

Gráfico 4: Correlação entre Margem Bruta por hectare e Produção de Arrobas por hectare de propriedades de Recria e Engorda amostradas pelo projeto Campo Futuro.
Fonte: Projeto Campo Futuro - Sistema CNA/Senar.
Elaboração: Cepea - ESALQ/USP, Sistema CNA/Senar.
A partir disso, fica claro que as propriedades dos grupos 1 e 2 apresentaram produtividades superiores às dos grupos 3 e 4. Nesse contexto, a relação entre a eficiência de colheita da forragem com a produtividade pode ser avaliada por meio de índices produtivos que têm influência direta sobre a produção de arrobas por hectare, como o ganho de peso diário e a taxa de lotação, e sua correlação com a MB da atividade (Gráficos 5 e 6).

Gráfico 5: Correlação entre Margem Bruta por hectare e a taxa de lotação (UA/hectare) de propriedades de Recria e Engorda amostradas pelo projeto Campo Futuro.
Fonte: Projeto Campo Futuro - Sistema CNA/Senar.
Elaboração: Cepea - ESALQ/USP, Sistema CNA/Senar.

Gráfico 6: Correlação entre Margem Bruta por hectare e Ganho Médio Diário (GMD) de propriedades de Recria e Engorda amostradas pelo projeto Campo Futuro.
Fonte: Projeto Campo Futuro - Sistema CNA/Senar.
Elaboração: Cepea - ESALQ/USP, Sistema CNA/Senar.
Diante dos resultados observados, nota-se que os grupos 1 e 2 conseguiram manter taxas de lotações relativamente mais altas (acima de 1 UA/ha) sem comprometer o desempenho individual dos animais. Enquanto os grupos 3 e 4 operaram com lotações mais baixas e apresentaram GMD significativamente inferiores.
Considerações finais
Vale ressaltar que a quantidade de arrobas produzidas por área é um importante parâmetro para analisar o potencial de produção de um sistema a pasto, visto que a receita da atividade é dependente da quantidade de arrobas entregues. Assim, um melhor aproveitamento de colheita do pasto pode impactar positivamente no ganho de peso diário e, consequentemente, a margem bruta (MB) da atividade.
Propriedades que apresentaram um saldo de forragem mais ajustado à sua lotação (grupos 1 e 2) obtiveram, no geral, melhores resultados, alcançando maiores níveis de produtividade e, com isso, margens brutas mais elevadas. Nos cenários observados nos grupos 3 e 4, a má gestão dos recursos limitou os ganhos produtivos e, portanto, penalizou a margem bruta das propriedades. Nesse sentido, a orientação técnica na busca por alternativas tanto para gerenciamento das áreas de pasto quanto no emprego de suplementos alimentares é fundamental para a garantia de melhores resultados.
Portanto, é essencial que propriedades que utilizam a pastagem como base da nutrição do rebanho realizem o dimensionamento da produção de massa de forragem em relação à demanda exigida pelo sistema ao longo do ano. Dessa forma, além de garantir boa produção de forragem e uma taxa de lotação adequada, também será possível otimizar a eficiência de colheita, evitando faltas e desperdícios – o que proporciona maiores ganhos produtivos e econômicos para o sistema.
Técnicas como o manejo por altura de pasto e o pastejo rotacionado podem trazer diversos benefícios para o sistema, como a produção de forragem de maior qualidade, melhor eficiência de colheita e, inclusive, favorecer a recuperação do pasto após o pastejo. Destaca-se que, entre as propriedades analisadas, muitas não realizam nenhum tipo de manejo de manutenção anual em suas áreas, o que pode ter limitado a produção de massa de forragem, impedindo o aumento da escala produtiva da fazenda.
Por fim, conclui-se que o manejo adequado das pastagens é um fator crucial para alcançar resultados satisfatórios. Essa prática impacta diretamente em um melhor escalonamento da produção, permitindo uma taxa de lotação anual mais elevada.
Quando aliada a uma colheita eficiente da forragem, também contribui para o aumento do ganho individual dos animais. Esses elementos, em conjunto, impulsionam a produtividade geral da propriedade e podem resultar em melhores margens financeiras.
Referências bibliográficas
(1) BARIONI, L. G. et al. Tabelas para estimativa de ingestão de matéria seca de bovinos de corte em crescimento em pastejo. 2007.

Ativo de Pecuária de Corte - Abril 2025
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